quarta-feira, 25 de junho de 2014





A importância dos limites na vida da criança

Até onde os pais podem atender às exigências, às imposições e aos desejos da criança? Como impor limites num ser imaturo, impregnado de vontades, sem causar danos psicológicos ou emocionais?
A criança capta, através da sensibilidade aflorada, as fraquezas dos pais e monta o seu arsenal para vencer aqueles que a cercam. Antes mesmo de dar os primeiros passos, de proferir uma palavra, aprende a arte de envolver a família à sua volta e, à medida que ganha autonomia, maturidade, sente-se “dona do pedaço”. Todos entram na sua mira: pais, tios, avós, coleguinhas... E, se não forem contidas, em pouco tempo, birras e pirraças se convertem em agressões físicas e verbais.
Segundo o jornalista e historiador André Fontaine, “todo adulto é, basicamente, o resultado direto dos limites que recebeu quando criança, de como eles foram colocados, recebidos, entendidos e aceitos”. A falta de limites na infância é uma das principais razões da existência de jovens rebeldes e adultos e profissionais fracassados. O excesso de liberdade rompe a ligação de relacionamento entre pais e filhos, que vivem em constante pé de guerra, na disputa sobre quem manda e quem obedece.
A indisciplina infantil é gritante: mordem; chutam; empurram; cospem; proferem palavrões e insultos; arremessam objetos por um simples “não” recebido; e, por acreditarem que podem tudo, armam o palco e dão o seu espetáculo em porta de lojas de brinquedos, shopping centers, sorveterias e parques de diversões.
Determinar limites na fase da formação da personalidade é fundamental para ostentar um relacionamento estável e proporcionar a formação do indivíduo que passa a refletir sobre seus valores, seus direitos e suas obrigações no seio da família e, posteriormente, na sociedade.
Pais que amam não são aqueles que cedem sempre, que têm um “sim” na ponta da língua e as mãos sempre abertas, prontas para doar. A verdadeira arte de ser pai é saber dizer “não”, mesmo em situações em que o “sim” poderia sobressair. Somente assim a criança não crescerá acreditando que tem direito a tudo e que pode tudo.
Na busca de saídas, pais recorrem à escola, e esta, por sua vez, repassa a responsabilidade. Afinal, de quem é o compromisso de impor limites à criança?
É importante que família e escola permitam que a criança seja realmente criança. Respeitar a fase de brincar, sonhar, se divertir... É nessa trajetória que ela se descobre no mundo, adquire segurança, autoconfiança e, na sequência de descobertas, se projeta como construtora do próprio conhecimento. O que não pode ser permitido é que esses pequeninos não tenham limites e dominem, como se a casa, a escola e as pessoas fossem meros objetos de suas vontades.
O exemplo tem que partir dos pais, através de atos e atitudes. No momento de agir, eles devem abrir mão da emoção, dos sentimentos, e seguir apenas a razão. É melhor serem duros, radicais, do que passarem o resto da vida lamentado as decisões não tomadas e perderem o seu filho para o mundo que está aí, de braços abertos para acolhê-lo.
Para atingir esse alvo, pais têm que assumir uma postura para equilibrar o relacionamento. A criança precisa entender porque isso ou aquilo pode ou não ser feito. Esse entendimento gera a consciência. A criança aprende com os atos dos adultos, e, se pai e mãe brigam, se agridem, não se respeitam, consequentemente o filho vai seguir o mesmo caminho.
Apesar de tantos exemplos, muitos pais ainda confundem educação com formação. Podemos matricular nosso filho numa escola que lhe propicie uma educação de qualidade, mas é preciso o complemento que é a formação moral, religiosa e, principalmente, ética para respeitar limites e resistir às tentações do mundo.

Pais devem ser a âncora, a rota, a voz e o silêncio. A âncora que ampara, proporciona segurança, estaciona num porto seguro; a rota que conduz ao crescimento humano e pessoal através da experiência; a voz para falar — não para conter, mas para indicar o caminho —; e o silêncio para ouvir os medos, captar as fraquezas, entender as inseguranças e as necessidades de uma criança que necessita de gestos de carinho, palavras de incentivo, atitudes corretivas e calor humano para formar o elo do afeto. Afinal, crescer é tão difícil quanto nascer. Há que se estar pronto para enfrentar os desafios de um novo mundo.

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