A
importância dos limites na vida da criança
Até
onde os pais podem atender às exigências, às imposições e aos
desejos da criança? Como impor limites num ser imaturo, impregnado
de vontades, sem causar danos psicológicos ou emocionais?
A
criança capta, através da sensibilidade aflorada, as fraquezas dos
pais e monta o seu arsenal para vencer aqueles que a cercam. Antes
mesmo de dar os primeiros passos, de proferir uma palavra, aprende a
arte de envolver a família à sua volta e, à medida que ganha
autonomia, maturidade, sente-se “dona do pedaço”. Todos entram
na sua mira: pais, tios, avós, coleguinhas... E, se não forem
contidas, em pouco tempo, birras e pirraças se convertem em
agressões físicas e verbais.
Segundo
o jornalista e historiador André Fontaine, “todo adulto é,
basicamente, o resultado direto dos limites que recebeu quando
criança, de como eles foram colocados, recebidos, entendidos e
aceitos”. A falta de limites na infância é uma das principais
razões da existência de jovens rebeldes e adultos e profissionais
fracassados. O excesso de liberdade rompe a ligação de
relacionamento entre pais e filhos, que vivem em constante pé de
guerra, na disputa sobre quem manda e quem obedece.
A
indisciplina infantil é gritante: mordem; chutam; empurram; cospem;
proferem palavrões e insultos; arremessam objetos por um simples
“não” recebido; e, por acreditarem que podem tudo, armam o palco
e dão o seu espetáculo em porta de lojas de brinquedos, shopping
centers, sorveterias e parques de diversões.
Determinar
limites na fase da formação da personalidade é fundamental para
ostentar um relacionamento estável e proporcionar a formação do
indivíduo que passa a refletir sobre seus valores, seus direitos e
suas obrigações no seio da família e, posteriormente, na
sociedade.
Pais
que amam não são aqueles que cedem sempre, que têm um “sim” na
ponta da língua e as mãos sempre abertas, prontas para doar. A
verdadeira arte de ser pai é saber dizer “não”, mesmo em
situações em que o “sim” poderia sobressair. Somente assim a
criança não crescerá acreditando que tem direito a tudo e que pode
tudo.
Na
busca de saídas, pais recorrem à escola, e esta, por sua vez,
repassa a responsabilidade. Afinal, de quem é o compromisso de impor
limites à criança?
É
importante que família e escola permitam que a criança seja
realmente criança. Respeitar a fase de brincar, sonhar, se
divertir... É nessa trajetória que ela se descobre no mundo,
adquire segurança, autoconfiança e, na sequência de descobertas,
se projeta como construtora do próprio conhecimento. O que não pode
ser permitido é que esses pequeninos não tenham limites e dominem,
como se a casa, a escola e as pessoas fossem meros objetos de suas
vontades.
O
exemplo tem que partir dos pais, através de atos e atitudes. No
momento de agir, eles devem abrir mão da emoção, dos sentimentos,
e seguir apenas a razão. É melhor serem duros, radicais, do que
passarem o resto da vida lamentado as decisões não tomadas e
perderem o seu filho para o mundo que está aí, de braços abertos
para acolhê-lo.
Para
atingir esse alvo, pais têm que assumir uma postura para equilibrar
o relacionamento. A criança precisa entender porque isso ou aquilo
pode ou não ser feito. Esse entendimento gera a consciência. A
criança aprende com os atos dos adultos, e, se pai e mãe brigam, se
agridem, não se respeitam, consequentemente o filho vai seguir o
mesmo caminho.
Apesar
de tantos exemplos, muitos pais ainda confundem educação com
formação. Podemos matricular nosso filho numa escola que lhe
propicie uma educação de qualidade, mas é preciso o complemento
que é a formação moral, religiosa e, principalmente, ética para
respeitar limites e resistir às tentações do mundo.
Pais
devem ser a âncora, a rota, a voz e o silêncio. A âncora que
ampara, proporciona segurança, estaciona num porto seguro; a rota
que conduz ao crescimento humano e pessoal através da experiência;
a voz para falar — não para conter, mas para indicar o caminho —;
e o silêncio para ouvir os medos, captar as fraquezas, entender as
inseguranças e as necessidades de uma criança que necessita de
gestos de carinho, palavras de incentivo, atitudes corretivas e calor
humano para formar o elo do afeto. Afinal, crescer é tão difícil
quanto nascer. Há que se estar pronto para enfrentar os desafios de
um novo mundo.
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